ATA DA VIGÉSIMA QUARTA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 10.08.1989.

 


Aos dez dias do mês de agosto do ano de mil novecentos e oitenta e nove reuniu-se, na sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Vigésima Quarta Sessão Solene da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada a assinalar a data em que mundialmente se rememora o trágico lançamento das bombas sobre Hiroshima e Nagasaki. Às dezessete horas e dezessete minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e solicitou aos Líderes de Bancada que conduzissem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Adroaldo Correa, 3º Secretário deste Legislativo, no exercício da Presidência dos trabalhos; Dr. Caio Lustosa, Secretário Municipal do Meio Ambiente, representando, neste ato, o Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre; Sr. Kazunori Uno, Cônsul Geral do Japão no Rio Grande do Sul; Dr. Eurico Turin, Físico Nuclear italiano em visita ao Brasil; Sr. Celso Marques, Presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Meio Ambiente - AGAPAN; Sra. Magda Renner, Presidente da Associação Democrática Feminina Gaúcha; e Ver. Gert Schinke, proponente desta Sessão e Secretário “ad hoc”. A seguir, o Sr. Presidente registrou o recebimento de correspondência alusiva à presente solenidade, enviadas pelo Governador Pedro Simon, pelo Dep. Estadual Germano Bonow, e pelo Diretor-Presidente da EPATUR, Sr. José Carlos Mello D’Ávila. Fez pronunciamento alusivo à ocasião, ressaltando os fatos históricos que motivaram o lançamento das bombas atômicas em Nagasaki e Hiroschima, e salientando as danosas conseqüências de tal ato para humanidade. E, em prosseguimento, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Vieira, em nome das Bancadas do PDT, PDS e PTB, discorrendo sobre as conseqüências do uso da bomba atômica e da energia nuclear, salientou que o desequilíbrio ambiental é irrecuperável e que a corrida armamentista é um investimento que sobrepuja os povos do chamado Terceiro Mundo, jogando-os na miséria. Asseverou ainda que a guerra nuclear é sinônimo de catástrofe para toda a humanidade. Conclamou: “A bomba é a mais agressiva forma de poluição. Pelo desarmamento. Hiroshima e Nagasaki nunca mais”. O Ver. Gert Schinke, como proponente da Sessão, e em nome das Bancadas do PT, PMDB, PCB, PSB e PL, afirmou que, nesta ocasião, todos deveriam fazer reflexão acerca do significado dos acontecimentos de Nagasaki e Hiroshima, salientando que a tragicidade do ocorrido colocou a humanidade dramaticamente diante da sua auto-destruição. Discorreu sobre os mecanismos político/militar que norteiam a questão armamentista do mundo, afirmando ser um “terrorismo que atinge a todo o planeta”. Citou trechos do Livro “Átomos para a Guerra”, de R. Angentière; comentou e analisou outros desastres e acidentes decorrentes da corrida armamentista; questionou a questão do lixo atômico, e propugnou a busca de modelo de desenvolvimento alternativo, salientando que a dinâmica capitalista impede um desenvolvimento ecologicamente equilibrado. A seguir, o Sr. Presidente convidou o Secretário Municipal do Meio Ambiente, Ver. Caio Lustosa, a proceder à entrega da “Rosa de Hiroshima” ao Cônsul do Japão, Sr. Kazunori Uno. Em prosseguimento, o Sr. Secretário Municipal do Meio Ambiente, Ver. Caio Lustosa, solidarizou-se com a iniciativa do Ver. Gert Schinke de homenagear as vítimas de Hiroshima e Nagasaki, discorreu sobre o tema e destacou que a humanidade está a exigir uma reformulação de conceitos da “dita tecnologia moderna”, citando, especialmente, o da infabilidade da ciência e o da racionalidade da pesquisa e do pensamento humano. Às dezoito horas e dezesseis minutos, o Sr. Presidente convidou os presentes a permanecerem no Plenário, a fim de participarem do debate a ser presidido pelo Ver. Gert Schinke, acerca dos rejeitos nucleares; e, nada mais havendo a tratar, convocou os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Adroaldo Correa, nos termos do artigo 11 - parágrafo primeiro do Regimento Interno, e secretariados pelo Ver. Gert Schinke, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Gert Schinke, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Adroaldo Corrêa): Damos por abertos os trabalhos da Sessão Solene e informamos que recebemos diversas correspondências em relação a esta Sessão, do Sr. Germano Bonow; Governador Pedro Simon, saudações; do Diretor Presidente José Carlos Mello D’Ávila, da Epatur.

Esta Sessão Solene é, como se disse, aprovada por unanimidade da Casa por proposição do Ver. Gert Schinke e se destina a marcar em Porto Alegre, como ocorre em diversas cidades do mundo o ato trágico ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial e o lançamento dos primeiros artefatos à base de energia nuclear, e explosão desses artefatos sobre a população humana, os civis, na Segunda Guerra Mundial, em relação ao Japão, ofensiva dos Estados Unidos. Estão inscritos para falar e convidamos imediatamente para a tribuna o Ver. Vieira da Cunha pelas Bancadas do PDT, PDS e PTB. O Ver. Vieira da Cunha é Líder do Partido Democrático Trabalhista.

 

O SR. VIEIRA DA CUNHA: Exmo Sr. Ver. Adroaldo Corrêa, na Presidência dos trabalhos, Senhores Vereadores e demais personalidades presentes a esta Sessão. (Lê.)

É com muita honra que, em nome da Bancada do PDT nesta Casa, ocupo a tribuna para assinalar a passagem do Dia Internacional da Bomba Atômica.

Os tristes acontecimentos de Hiroshima e Nagasaki ocorridos, respectivamente, em 6 e 9 de agosto de 1945, merecem uma profunda reflexão de nossa parte. Nós, Vereadores de Porto Alegre, que representamos a população de nossa Cidade, devemos nos preocupar em prevenir a loucura de uma guerra nuclear, cujos reflexos não terão fronteiras nem limites. Congratulo-me com o Ver. Gert Schinke pela iniciativa de propor esta oportuna Sessão.

As explosões das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki deram à humanidade terríveis e apavorantes mostras do poderoso efeito que a chamada radiação ionizante causa a um grande número de pessoas.

A arma nuclear supera, por sua força destruidora, todas as armas das guerras passadas, trazendo para a humanidade danos ainda incalculáveis, produzidos pela radiação ionizante.

Há 44 anos, as vítimas chegaram a 255.200 pessoas em Hiroshima e 195.290 em Nagasaki. Apenas no primeiro dia, morreram 1/3 das pessoas que se encontravam nestas cidades no momento do ataque nuclear, e cerca de 60% nos quatro primeiros meses.

No final do quarto mês, dentre os que foram atingidos, permaneciam vivos cerca de 52% em Hiroshima e apenas 39% em Nagasaki. O emprego de arma nuclear, pois, acarreta a morte quase instantânea das pessoas, sem falar nos efeitos a longo prazo, como as alterações somáticas e genéticas provocadas pela emissão radioativa de doses sub-letais até doses consideradas pequenas. Há, ainda, as lesões traumáticas de origem não radioativas - feridas e queimaduras que podem provocar invalidez e até a morte. Também são efeitos da bomba atômica os tumores malignos da pele, como resultado da exposição aos raios ultravioletas do sol.

Entre os chamados efeitos tardios da irradiação estão as cataratas lenticulares, síndrome do envelhecimento precoce, tumores malignos nas pessoas irradiadas e alterações genéticas em seus descendentes. Outro efeito nocivo de uma guerra nuclear é o desequilíbrio ambiental irrecuperável.

Enfim, como afirmei no início, é uma verdadeira loucura. Ainda mais quando se sabe que hoje os arsenais das duas grandes potências mundiais (Estados Unidos e Rússia) contêm armas nucleares capazes de destruir repetidas vezes toda a vida na terra.

Se há 44 anos, as vítimas de Hiroshima e Nagasaki somaram a quase meio milhão de pessoas, dentre as quais mais de 100.000 morreram e quase 40.000 desapareceram, hoje a vítima de uma guerra nuclear seria toda a humanidade, que certamente seria literalmente varrida da face do planeta se tal insanidade se concretizasse.

A nós, do chamado Terceiro Mundo, revolta, ainda mais esta estúpida corrida armamentista. Pela simples e irrespondível razão de que os enormes recursos empregados em cada vez mais poderosas, sofisticadas e suicidas armas nucleares têm a sua origem, no fundo, em nosso subdesenvolvimento, na dívida externa, na fome, na doença, no analfabetismo e na miséria de milhões e milhões de irmãos nossos.

Por outro lado, conforme afirmou o cientista norte-americano Geyger, “a idéia de que a guerra nuclear pode ser limitada é irreal e carece de argumentos científicos. A catástrofe que produziria a nada se poderia comparar, nem mesmo a Hiroshima e Nagasaki”. Não há, portanto, o menor sentido na propalada assertiva “se queres a paz, prepara-te para a guerra”.

Até porque, numa guerra nuclear, não haverá vencedores. Vencidos seremos todos nós, a humanidade inteira. A bomba é a mais agressiva forma de poluição. Pelo desarmamento. Pela paz. Pela vida.

 

 

Hiroshima e Nagasaki, nunca mais! Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Gert Schinke, proponente desta Sessão, e que falará em nome do PT, PMDB, PCB, PSB e PL.

 

O SR. GERT SCHINKE: Ilustre Presidente, Ver. Adroaldo Corrêa, companheiro Caio Lustosa, representando o Prefeito Municipal Olívio Dutra, companheiros Vereadores, companheiros que nos assistem aqui, à Sessão pela passagem desse trágico acontecimento em 1945. A destruição de Hiroshima e Nagasaki por bombas atômicas colocou a humanidade diante de uma nova realidade. Até o dia 6 de agosto de 1945 as armas existentes eram capazes de matar milhões de pessoas, mas não a humanidade como um todo. Após essa data, a humanidade foi colocada dramaticamente diante da ameaça de sua autodestruição.

Nesta data, quando homenageamos as vítimas do massacre de Hiroshima e Nagasaki, é importante refletirmos sobre a atualidade dos acontecimentos de Hiroshima. Hoje, mais do que no passado, essa presente ameaça de extermínio da humanidade pelas armas nucleares está presente entre nós. De um pequeno livro chamado “Átomos para a Guerra” eu vou ler alguns pequenos trechos para ilustrar o que representam essas duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki. A cidade de Hiroshima está situada a 34º de latitude norte e 133º de latitude este. É banhada no Largo Delta pelo Rio Otagawa, que se lança no Mar Interior, cujos sete ramos dividem a cidade em seis ilhas. A aglomeração é absolutamente plana e pouco elevada acima do nível do mar. Um conjunto de pontes, num total de 81, na época, ligam as diferentes ilhas. No centro da cidade existem numerosos prédios industriais de cimento armado pertencentes a bancos, grandes companhias de seguro, magazines, jornais, etc. Uma cidade que, na época, contava com cerca de 350 mil habitantes. Um bombardeiro D-29, apelidado Enola Gay, estava a 10 mil metros de altitude e se dirigia à cidade de Hiroshima, as condições, no dia 6 de agosto, eram consideradas excelentes. A bomba que ele havia soltado explodiu a cerca de 600 metros de altitude, precisamente às 8h15min, hora local. Abriu-se uma luz em forma de um grande sino e à medida em que a nuvem subia, ia-se transformando num enorme cogumelo. A confusão na cidade foi geral, a primeira bomba atômica explodia sobre Hiroshima, abria-se, assim, tragicamente, uma nova era para a humanidade: a era da energia atômica. Esta primeira bomba foi batizada pelos pilotos americanos de little boy, ou seja, meninão. Certamente eles nem sabiam com o que estavam lidando.

A cidade de Nagasaki, um pouco menor do que Hiroshima, tem uma conformação topográfica um pouco diferente. Existem ali muitas colinas, é uma cidade à beira do mar e por este motivo a destruição em Nagasaki não foi tão grande e grave como foi em Hiroshima. Morreu menos gente, mas do ponto de vista das conseqüências, para os dias atuais, ainda são sentidas, hoje, as conseqüências da explosão destas duas bombas atômicas. Nós tivemos a satisfação de constatar, agora, há poucos minutos atrás, que o Cônsul que aqui nos honra com a sua presença, é um cidadão nascido em Nagasaki e presenciou o dia da explosão da bomba atômica, estava a cerca de quatro quilômetros do centro da bomba e ele sobreviveu à tragédia.

Bem, fazendo uma transposição agora por mais de 40 anos, chegamos aos dias atuais. Os acordos de limitações de armas de curto alcance, assinados entre os Estados Unidos e a União Soviética, contribuíram para diminuir as tensões internacionais. Mas, são apenas uma gota no oceano se comparadas com os mega-arsenais capazes de destruir a terra mais de sessenta vezes. Se os orçamentos destinados aos armamentos nucleares fossem destinados para eliminar a fome, a miséria, não haveria mais isto, hoje, na humanidade. Enquanto existirem armas nucleares na face da Terra, nós estaremos todos ameaçados.

Poderíamos fazer um paralelo dessas duas bombas jogadas sobre Hiroshima e Nagasaki com guerras que transcorreram posteriormente, como a guerra da Coréia, a guerra do Vietnã e outras de menor dimensão. Embora não fossem nelas usadas armas nucleares e sim as chamadas armas convencionais, as conseqüências em termos de vítimas humanas foram, no entanto, maiores. Não são apenas as armas nucleares que são usadas sobre alvos civis como foram, na época, em Hiroshima e Nagasaki; na guerra do Vietnã se usou, indiscriminadamente, armas químicas de um poder de destruição enorme e que as conseqüências são hoje sentidas e serão durante muitas décadas.

Quais são os limites da guerra nuclear? Aqui eu me reporto ao Vereador que me antecedeu, realmente não pode haver limite para a guerra nuclear, porque ela se tornará completamente infactível do ponto de vista da própria essência do que quer dizer uma guerra - eliminar o próprio inimigo. Numa guerra nuclear nós não vamos ter mais vencedores, os armamentos nucleares são hoje mecanismos de dominação política e de chantagem militar que são usados entre as nações. É este o sentido que tem o armamento nuclear que envolve orçamento de bilhões de dólares anuais, e que se destinam unicamente a reproduzir esses mecanismos de dominação e de chantagem, um verdadeiro terrorismo que é estendido a toda a humanidade. Mas não são apenas as armas nucleares que trazem riscos para a vida do planeta. A utilização da energia nuclear para chamados fins pacíficos já provocou desastres com dezenas de mortos, milhares de pessoas contaminadas e prejuízos econômicos gigantescos, a utilização da energia nuclear para fins pacíficos também tem implicações militares. As usinas nucleares para produção de energia produzem o lixo nuclear que além dos riscos ao meio ambiente servem, quando reprocessados, para fabricar o plutônio, utilizado nas armas atômicas. A instalação de usinas atômicas em países do Terceiro Mundo como o Brasil contribuem para aumentar a dependência tecnológica e a dívida externa desses países.

O acidente de Chernobyl demonstrou que as normas de segurança, tidas como seguras, na verdade são falhas. O que os ecologistas diziam, há décadas, aconteceu e teve conseqüências dramáticas para milhões de pessoas. Na verdade houve já muito antes do acidente de Chernobyl, centenas de acidentes com usinas termonucleares, a maior parte deles não foram divulgados, obviamente pelo lobby e o poder de influência sob a grande mídia, que é exercido pelo complexo industrial nuclear. O acidente de Goiânia trouxe para perto de nós a tragédia nuclear. Além das mortes que ocorreram, no momento milhares de pessoas foram contaminadas e terão de ter acompanhamento médico pelo resto da vida e correm sérios riscos de contrair câncer. Mas a ameaça de contaminação radioativa ainda paira sob a população de Goiânia, o lixo atômico proveniente do acidente ainda está em um depósito provisório, enquanto que um projeto para depósito definitivo, elaborado por uma empresa italiana, ainda dorme nas gavetas da burocracia do governo federal.

E o lixo de Angra para onde é levado? Para onde vai? Até agora não existe um local para o depósito definitivo do lixo nuclear de Angra I. Lixo esse que contém dezenas de espécies radioativas, muitas delas com meias vidas de milhares de anos. Sobre isso depois faremos aqui, certamente o Prof° Henrique e o Prof° Aveline vão se reportar a esse tema, sobre o que significa as meias vidas dos materiais radioativos. O risco de contaminação radioativa é agravado pelo fato de que a radiação só é detectada no organismo humano com aparelhos sofisticadíssimos, porquanto os seus efeitos já são danosos para as pessoas. Mas os problemas ambientais não são os únicos gerados pela energia nuclear. A energia nuclear é concentradora de capital, poucas multinacionais dominam o mercado mundial de equipamentos e de combustível nuclear. Paralelamente à concentração de capital, temos a concentração de tecnologia, o que assusta ainda mais, o que aumenta ainda mais a dependência econômica e tecnológica dos países do Terceiro Mundo que embarcaram na aventura nucelar.

Mas os danos provocados pela energia nuclear, atômica, não param aí. A construção e operação de usinas termonucleares exigem normas de segurança cada vez mais rígidas para evitar possíveis sabotagens, o que termina por afetar o direito à sindicalização e de greves dos trabalhadores das indústrias nucleares e até mesmo da sociedade como um todo, colocando em risco as liberdades democráticas, tudo em nome da segurança nuclear.

Na verdade todas as usinas termonucleares, para produção de energia elétrica, são alvo de guerras, embora se diz que elas não sejam construídas para esta finalidade, mas elas se tornam, automaticamente, alvos de guerra.

Portanto, devemos saudar atitudes como a tomada pelo governo alemão que fechou duas instalações nucleares, a Usina de Reciclagem de Combustível em Wackersdorf, na Baviera e o Protótipo de Reator de Tório de Alta Temperatura em Hamm - Uentrop na Renânia do Norte, na Westphalia. Motivos econômicos e tecnológicos contribuíram para esta decisão, mas a pressão do movimento ecologista foi, certamente, decisiva. Pesquisas de opinião realizadas, hoje, na Alemanha, mostraram que 2/3 da população é favorável ao abandono da energia nuclear.

A discussão sobre energia nuclear não pode ser separada da discussão de uma política energética global, e esta, de um modelo de desenvolvimento. O modelo de desenvolvimento capitalista baseado no consumo de massa de bens e serviços é insustentável do ponto de vista ecológico a longo prazo. O desperdício da energia decorrente da obsolescência planejada e do desperdício provocado por uma sociedade que cria, artificialmente, necessidades de consumo que nada tem a ver com uma melhoria da qualidade de vida.

Estudos publicados pelo Clube de Roma demonstraram que os recursos minerais da terra já teriam se esgotado se todos os países do mundo tivessem ingressado na economia de consumo atingindo o nível de vida dos Estados Unidos e da Europa Ocidental.

Portanto, o que está colocado para nós é a busca de um modelo de desenvolvimento menos consumidor de energia. Temos que eliminar o desperdício, temos que eliminar o emprego de energia e de matérias que necessitam em demasia desta energia. Temos que racionalizar os métodos de produção, os métodos de transporte e adotar métodos alternativos, como por exemplo, uma coisa que muito tenho falado aqui desta tribuna, como as ciclovias. Segundo estudos do IPT, o Brasil poderia atingir um índice de conservação de energia, na indústria, na ordem de 10 a 20%, e cerca de 30% para o setor de transporte. É um dado realmente espantoso. Mas o grande entrave, para se atingir o desenvolvimento racional e ecologicamente equilibrado, é a dinâmica capitalista de lucro e da propriedade privada. No nosso entender só uma sociedade socialista, com uma economia democraticamente qualificada, é que poderá atingir as condições de um desenvolvimento ecologicamente equilibrado e sustentável a longo prazo.

Nós dedicamos essa Sessão Solene às vítimas das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, e todas as pessoas que padeceram e ainda padecem de fome e de miséria por causa da corrida armamentista e, em especial, da corrida nuclear. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nesta oportunidade convidamos o Secretário Caio Lustosa a fazer a entrega simbólica da rosa de Hiroshima ao Cônsul-Geral do Japão no Rio Grande do Sul, Sr. Kazunori Uno.

 

(O Secretário Caio Lustosa faz a entrega da rosa ao Cônsul, ao som da música Rosa de Hiroshima.)

 

O SR. PRESIDENTE: Damos a palavra ao Secretário do Meio Ambiente de Porto Alegre, Ver. Caio Lustosa.

 

O SR. CAIO LUSTOSA: Exmo Sr. Presidente dos trabalhos, Ver. Adroaldo Corrêa; Exmo Cônsul-Geral do Japão no Rio Grande do Sul; Presidente da AGAPAN; Srª Magda Renner, Presidente da Associação Democrática Feminina Gaúcha Amigos da Terra.

Delegou-me o Prefeito da Cidade, companheiro Olívio Dutra, a incumbência de participar deste ato significativo e em boa hora requerido pelo Ver. Gert Schinke com apoio da unanimidade dos integrantes desta Casa. Sinto que seria até dispensável acrescentar algo mais às colocações tão bem expendidas aqui pelos Vereadores Vieira da Cunha e Gert Schinke, e que resgatam toda essa tragédia que a humanidade viveu de forma cruenta, há menos de cinco décadas, e que marcou o encontro da civilização moderna com essa forma de energia de risco altíssimo e, hoje, já se sabe, indesejável e indesejado pelas populações do mundo inteiro.

Então, celebrações como esta sempre nos provocam, além da reflexão, a emoção pelo que reavivam das perdas trágicas da humanidade e que hoje assumem quase que caráter rotineiro, com as contaminações de todos os gêneros que a tecnologia dita avançada propiciou ao nosso planeta e, de outra parte, forçam-nos a insistir na reformulação de conceitos como o da infalibilidade da ciência, como o da racionalidade quase que incontestável da pesquisa e das ações do pensamento e da atividade humana. E é neste ponto, então, que no final deste milênio, a humanidade se encontra. E as populações - principalmente as camadas mais jovens que, no alvorecer de suas vidas, não se resignam com uma civilização de morte, de destruição e de tragédia - estão a clamar, de parte dos governos do mundo inteiro, uma reformulação dos critérios que norteiam a ciência, que regem a pesquisa e que instrumentalizam o sistema econômico vigente, para colocar um pesadelo permanente sobre a humanidade inteira.

Então, estes atos, como o de hoje, - e que ocorrem em todos os países, praticamente, a mostrar que a tragédia de Hiroshima e Nagasaki não é algo isolado, mas que compromete, envolve e mobiliza os corações e as mentes de todos nós, têm um profundo significado e é isto que pretendeu a homenagem que, por boa inspiração dos promotores desta Sessão, prestamos ao Senhor Cônsul do Japão aqui presente. Sem nos alongarmos - eis que logo a seguir os participantes deste ato terão oportunidade de ouvir e debater com o Prof° Eurico Turrin aspectos da tecnologia nuclear - queremos em nome da cidade de Porto Alegre estender a saudação ao representante do povo nipônico aqui presente, ao ilustre físico nuclear e seus companheiros, coincidentemente está em visita a Porto Alegre nestes dias, Prof° Turrin, que lá no Mercado Comum Europeu exerce um papel fundamental de trabalho no sentido da geração, no incentivo da criação de novas tecnologias. Que promovam, sim, a busca de uma energia saudável, segura, e sobretudo, condizente com a perpetuação da vida neste planeta. E é ele, certamente, que nesta tarde nos trará os seus subsídios, as suas informações da vivência que, dia-a-dia, ele hoje devotado inteiramente à causa do pacifismo, à causa da vida, nos trará dentro de instantes, aqui, neste Plenário da Câmara Municipal de Porto Alegre.

Nós agradecemos e saudamos estas duas personalidades que se encontram aqui, honrando a presente Sessão, em nome da Administração Popular desta Cidade. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Pode-se dizer que, para passar ao debate após o encerramento desta Sessão, que esta Sessão Solene se realizou por votação unânime da Câmara, iniciativa do Ver. Gert Schinke, que é também Presidente da Comissão de Saúde e Meio Ambiente desta Casa, e de alguma forma estaria resumida singelamente em duas expressões usuais da humanidade: “se esmagam algumas flores, algumas milhares de flores, mas não se detém a primavera”, pois algumas destas flores servem de exemplo para as nossas lutas no futuro e no presente. E que, também, está expressa por esta Sessão a frase localizada ao fundo deste Plenário: “à humanidade interessa empregar, sim, todas as suas energias para a manutenção e a conquista definitiva da paz”.

Convidamos o Ver. Gert Schinke a assumir a Presidência dos trabalhos para, em seguida, promover o debate que sucede a esta Sessão. Agradecemos a presença do Dr. Caio Lustosa, Secretário Municipal do Meio Ambiente. Agradecemos a todos os componentes da Mesa e aos demais convidados pela presença no dia de hoje.

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h16min.)

 

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